domingo, 23 de novembro de 2008

Chegou o frio


E com ele os assadores de castanhas. Há um cheiro inigualável que só estes carros conseguem fazer. Não sei se é por ainda usarem carvão mineral ou se é o dedo de Deus. Antigamente o assador não era metálico, mas sim de barro e com uma placa de ferro perfurada cosida ao fundo. Sempre que deitavam para lá dentro sal, o fogo agradecía o paladar com uns estimulantes estalos. Quantas vezes não corrigi o meu passo para sentir por mais tempo este adorável cheiro.
Retenho também umas mãos sempre negras do carvão das castanhas assadas, mãos cuja vida deixou sulcos fundos e muitas lembranças. As unhas igualmente negras onde se advinha uma óbvia e natural falta de higiene. Com um canivete davam o golpe e devagar, com uma paciência de quem sabe que vai fazer aquilo durante o dia todo, senão mesmo o inverno todo, lá iam juntando as castanhas golpeadas debaixo de uma serapilheira que fora um dos primeiros sacos de castanhas da temporada. Noutro lado desse saco, mais quente, repousavam as castanhas já assadas e à espera de comprador. Junto ao canivete e também debaixo de outra, o se calhar a mesma serapilheira, o cofre forte, ou seja os montes de moedas dos pacotinhos de castanhas.
Noutros tempos as castanhas iam em tubos feitos com páginas de listas telefónicas. Não se reciclava o papel e, se bem me lembro, a lista telefónica de Lisboa ía até Cascais e devia ter mais páginas que a Biblia, pelo que uma dava para um ror de dias.
Depois disto tudo já comia uma castanha!

1 comentário:

João Marchante disse...

Acreditas que este ano ainda não consegui parar para comprar castanhas ao simpático senhor Eduardo? E não passo por lá pouco! Raio de vida moderna.