sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Republishing - O António A.

Vejo com agrado imenso que o nosso condiscípulo António A. abandonou por momentos a investigação familiar e os afazeres sociais da província e já se registou como contributor no blog, começando a postar.
Esperam-se, assim, para muito breve, as memórias respectivas, devidamente encadernadas na magnífica verve a que habituou os amigos. Aliás, suspeito bem que, por estes momentos, toda uma província alentejana de afamados cantares, e não menos celebrados queijos, se calmou, aquietou e calou, para deixar o nosso homem - recolhido na sua sala da malaposta, revestida a incunábulos e lombadas de carneira - em laboriosa paz. E que as suas muito temidas averiguações genealógicas (que fazem o irmão Cidadelhe do Titó e a sua negra obra, A Verídica Inquirição, parecer uma história de embalar crianças) estão já a dar lugar a diabólicas descrições dos seus tempos filipados.
Os tempos filipados, isso, os inacreditáveis tempos dos poderes místicos das hermesetas; dos inegáveis benefícios e prazeres da sonegação nocturna de salames e da comparência em noctívagas e desconhecidas cerimónias fúnebres; da essencialidade, para as respectivas longevidades e vitalidades, dos sustos pregados às idosas senhoras passeantes na Av. Guerra Junqueiro, com o seu estridente grito de Sexo ! e a sua basca aparência, fornecida por aquela boina preta que então às vezes usava; da interrupção sistemática dos jogos de futebol com que os professores de ginástica insistiam em querer ocupar os tempos das aulas respectivas, pegando na bola com a mão e passando-a ao Pedro V. que com ela saía do campo para o balneário, perante a fúria dos futebolistas companheiros; das inquirições aos desgraçados dos filipados mais novos, epá, sabes quem é o moisés ? Aquele que fazia assim aos pés ? Não sabes ? E o Bode ? F* a cabra, f* o bode, só não f* quem não pode, não percebes nada; vai uma hermeseta ?; das imperiais na Portugália na companhia do genial professor Carlos C. (que, depois de uma noite de inúmeras canecas, ficava absolutamente lúcido e imperturbável, e conseguia repetir, palavra a palavra, um artigo de jornal, uma entrevista na rádio e os diálogos de um filme na televisão, lidos e ouvidos em simultâneo); das alucinadas visitas à Vera Lagoa para impôr os estandartes da fundação da nacionalidade na descida da Av. da Liberdade; das tardes de estudo da história ou da filosofia, na sala de jantar da Avenida Marconi, balão de cognac numa mão e charuto na outra, vendo o Bispo, muito corado, passar entre portas, sub-repticiamente, com os bolsos do casaco carregados de laranjas furtadas à família A.; das visitas protocolares de agradecimentos, aquando da vitória na associação, com direito a femininas vénias por parte do então barbudo presidente; e sei lá que coisas mais.
Conta-nos, António !

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