sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Republishing do primeiro post - Quem é ?

Neste primeiro ensaio de colaboração com a ideia genial de fazer um blog rewind do nosso Liceu Filipa de Lencastre, proponho uma advinha sobre a identidade de um certo personagem, colega de então e querido e bom amigo até hoje, indissociavelmente ligado ao liceu e aos anos que por lá passei. Não é difícil adivinhar: inevitavelmente, quando me encontro por qualquer razão entre meia dúzia de amigos do Filipa e a conversa voa para o passado, as tropelias filipadas do desordeiro e rufião amigo enigma acabam por sempre monopolizar a conversa, exclusivo feito da temeridade, desfaçatez, insolência, arrojo, graça, típica lisboaticidade e outras peculiaridades da adolescente personalidade do nosso enigma. Aliás, ainda bem recentemente trocámos entre alguns amigos, ele incluído, uns tantos e-mails a propósito da marcação de um jantar, tendo também terminado a correspondência por um elenco divertido das narrativas da vida dele no Filipa, narrativas essas a que recorro para este post. Os participantes nessa correspondência não podem participar na advinha. Ah, é verdade, o prémio para o vencedor será um lanche na Flor.
Quem será o protagonista ?
Em plena folia de Carnaval, grande confusão, reunião geral de alunos convocada para o átrio do liceu e Gudrun a discursar; grande barulho, a Gudrum não se consegue fazer ouvir e salta ele para a frente da professora, levanta os braços e diz: - Deixem a senhora professora falar. Recolhe depois à sua posição inicial, atrás da professora, e no mesmo segundo atira um ovo contra a parede (o crédito desta história é do Tomás C.) ;

Tripulava, avenida do Filipa abaixo e acima, uma estranha mota verde alface, com o "seu" capacete preto que lhe não entrava bem na imensamente talentosa cabeça e que muito oportunamente me subtraíra (é emprestado, repetia), com uns headphones igualmente emprestadados a uma certa Teresa que os nunca mais ouviu;

Desmontava a mota nova do Lourenço M. sem que ele, montado nela e a conversar com uma roda de amigos em frente ao liceu, percebesse, de forma que, quando o Lourenço arrancava, a coisa literalmente se desfazia, caía e se espalhava pelo chão;

De quando em quando convocava alguns amigos mais esfomeados para o telhado do prédio onde ficava a casa dos pais, lá organizando um verdadeiro churrasco de frangos (obtidos através de mais que originais negociações com o frigorífico do Amarelo) para gáudio e satisfação gastronómicas dos convivas, de uma vez quase pegando fogo ao prédio, o que implicou comparência de bombeiros e tudo;

Envolvia-se em discussões literárias com o António A e o Luís NB, assumindo pose e postura de imensa autoridade e profundidade, perante uma roda de outros circunstanciais embasbacados com a sua ciência rufia, opinando professoralmente sobre um livro do Fernando Pessoa (que, aliás, creio bem que nunca lera);

Botava discurso e alvitrava sobre os comunicados em que as listas "I" e "M" à associação de estudantes mutuamente se injuriavam, com o ar blasé de quem já não está para isso, ainda tu não eras nascido e já eu era vice presidente dessa coisa;

Tinha por estranho hábito fazer jogging às 3 da manhã, em tronco nu (a camisa tinha-a tirado para se não rasgar na estreita janela por onde entrara e saíra do liceu, tais eram as saudades da instituição, bucolismo puro), bairro social a fora, conseguindo sempre levar a melhor sobre os outros participantes na original e nocturna corrida, dois senhores abigodados e de boné que sabe-se lá por que estranhos desígnios o queriam alcançar;

Conseguia pôr fora do liceu, num dia de festa da associação, o famoso R., famigerado delinquente e marginal que havia entrado na festa e que então se dedicava a arrancar e arremessar pela janela todas as retretes das casas de banho ( epá, está lá fora uma gaja que quer entrar e te pediu para chamar, o R. lá foi ver quem seria, e, uma vez lá fora, estou a ver a cara do nosso amigo, em corrida acelerada para a porta, fecha, fecha a porta, fecha essa m*, e, depois de entrar, tropeçar e cair, atirar-se à porta do lado de dentro, empurrando-a com todas as suas forças, não fosse a mesma abrir-se aos pontapés e urros do R. enganado do lado de fora);

Mecânico nocturno experimentado, especializado no arrefecimento do motor da sua mota com líquidos humanos e famoso percursor da técnica de verificação do nível de combustível através da iluminação do depósito com isqueiro e depois disso na iluminação quase por completo da Quinta da Marinha onde fora a uma festa (o crédito desta história é do Tomás C.) ;

Tendo um dia fugido de casa e não tendo onde ficar nessa noite dirigiu-se a casa do seu amigo Tomás C. para pedir pernoita; o pior é que chegou lá já era muito tarde e, por uma vez sem lata para acordar a casa do amigo, viu-se na iminência de ter de relentear nessa noite, até por que a Dyane do António A., refúgio de última escolha mas normalmente disponível, estava na oficina. É então que verificou que nas imediações da casa do T. estava estacionado um autocarro de passageiros. Um sorriso, solução encontrada: abriu uma das bagageiras, entrou lá para dentro, recostou-se, encostou a porta e adormeceu. O diabo foi que, quando acordou, já o autocarro circulava, não lhe restando outra hipótese senão a de fazer a viagem até ao Entroncamento e regressar à boleia (o crédito desta história é do António A.) ;

Era guia experimentado e sabedor dos misteriosos recantos do liceu, de que talvez realce o subterrâneo por baixo do palco, o museu etnológico do Filipa e uns certos buracos que existiam numa das paredes do palco, neles conduzindo, em atmosfera de grande sigilo, visitas guiadas para os amigos que não acreditavam que existissem tais coisas no liceu (o crédito desta história é do António A.) ;

Foi líder natural e incontestado de diversas manifestações pro-consumo em Torremolinos, aquando da viagem de finalistas, capitaneando hordas de compatriotas que já nessa altura não passavam sem a aquisição compulsiva de tee-shirts e sweet-shirts (percursores, afinal, da sociedade de consumo globalizada em que hoje vivemos - o crédito desta história é do António A.) ;

E as histórias não se esgotam, muitas mais haveria para contar. Mas ficamos hoje por aqui.

Sem comentários: