Um dos posts do João Marchante, clamando pela presença do Duarte NA, trouxe-me à memória algumas imagens animadas do mesmo DNA na altura do liceu, que não resisto a aqui compartilhar:
Estou a ver nitidamente o Duarte, lá pelos anos de 82 ou 83, com o seu casaco de ganga azul e gola de lã branca, sentado na Mexicana à mesa de uma já vetusta senhora (que o João M. um dia tinha dito tratar-se de uma famosa poetisa), com a cara toda pintada, encarniçada e sarapintada (como só as senhoras idosas da Avenida de Roma ainda conseguem ter), tentando perguntar-lhe pelos poemas (em busca de um momento de absurdo e ridículo para se divertir com os amigos, nós, sentados em mesa ao lado), nada conseguindo, porque ela só lhe falava das suas doenças e achaques, não parecendo perceber nada daquela conversa sobre poesia em que o Duarte insistia.
E a cena que foi quando um velho revolucionário, de barba hirta e comprida, já todo branco, também habitué da Mexicana, se juntou a eles e, percebendo o pouco ortodoxo intento do Duarte, desatou aos berros com ele, brandindo o chapéu de chuva e acabando mesmo por tentar dar-lhe com ele na cabeça, perante o ar indignado do Duarte que insistia no reconhecimento público da literatura lírica da senhora.
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E numa aula do 11º ano, em que o Duarte e a Helena simularam autêntica feitiçaria, conseguindo que um chapéu de chuva (desses que se abrem automaticamente com um toque numa mola) se abrisse a cada vez que a professora se levantava para escrever no quadro, provocando a gargalhada geral e levando a que a desesperada professora, depois de sei lá quantas vezes se deslocar lá atrás da sala para voltar a fechar o chapéu, acabasse por perder as estribeiras atirando o chapéu pela porta da sala fora.
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E com a mesma professora, em aula de dia de Carnaval (em que o Bispo, sabe-se lá através de que extraordinárias manhas, conseguiu convencer a senhora a pôr uma saladeira na cabeça e assim iniciar a lição, perante o gozo e jocosa satisfação dos pupilos), o episódio do petardo...
É que o Luís AM, devidamente instruído e combinado com o Duarte, foi por fora do liceu e, da rua, atirou pela janela, providencialmente apenas encostada nesse dia, uma daquelas bombas de Carnaval que já faziam um barulho danado, a qual rebentou mesmo ao lado da secretária da Sandra; esta, acto contínuo, levantou-se em teatral pânico, gritando, levando a que a Professora iniciasse também uma tremenda berraria, isto é um petardo, isto já não é uma bombinha de carnaval, isto é um petardo !, logo coadjuvada pelo Duarte que prontamente se levantou, subiu para a carteira e gritava ordens, chamem a polícia !, chamem o porteiro !, é a revolução, atirem-se para o chão !, escondam-se de baixo das mesas !, provocando o caos e absoluta anarquia na sala, o Bispo que corria de um lado para o outro, aproveitando para deitar ao chão os livros que estavam em cima das secretárias, o António A. que iniciou cantares alentejanos, o Marchante que vozeava o célebre Organizem-se !, a Sandra que continuava o simulado ataque de histeria, enfim, a aula terminou por ali mesmo, debandada geral e solidária atrás da professora, que se recusava a continuar sem condições de segurança que evitassem novo rebentamento de petardos, não, coitados dos alunos.
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E daquela outra vez, numa aula de filosofia, logo nos primeiros dias do 10º ano lectivo, em que o António A., depois de pergunta mal compreendida e assim repelida pela Professora, se levanta e - revestido daquele tom escandalosamente cerimonioso e formal, naquela altura em que a maior parte de nós se esforçava por comunicar apenas em calão – lhe replicou: Senhora Doutora (o António nunca dizia “Stora”), não compreendo a sua interjeição; a minha pergunta foi clara, atilada e concisa ! Breves segundos de silêncio, e ouve-se então uma lancinante gargalhada gritada pelo Duarte, logo seguida de aplauso entusiástico ao António A por toda a sala. O diabo é que o DNA iniciou um dos célebres ataques de riso, não conseguindo parar por nada, acabando mesmo por ser posto na rua. A fotografia da expressão dele, tentando pôr-se sério e não rir, para logo rebentar em mais uma gargalhada monumental, é-me inevitável, cada vez que recordo a cena.
1 comentário:
Grande Guilherme! De facto "those were the days!" Tinhamos uma uma dinamica de Grupo muito interesante...O que explica, aliás, que nos tenhamos sentado ontem em frente um do outro, e eu não sentisse que o último encontro tivesse sido há 15 anos atrás! Grande Abraço. DNA.
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