quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Os primeiros petiscos proibidos

«Gambas Al Ajillo» n' O Pavão. Que avancem os que se iniciaram naqueles e noutros pitéus ao balcão da castiça mas requintada cervejaria. Assim de repente, lembro-me bem dessas saudosas primeiras noitadas — talvez logo em 1978/1979 ou em 1979/1980 ... — com o DNA, o LPMV (morava perto), o MAM (era da nossa turma e julgo que também costumava lá aparecer), o LTR (também vivia próximo) e outros. Penso que a última vez que lá ceei foi com o GSS e um heterodoxo grupo — em 1984 —, encerrando, assim, numa memorável e secreta jornada, o ciclo filipino.

18 comentários:

LAS disse...

A ginástica que é preciso fazer para descobrir essas iniciais todas! Usem o 1º nome e depois as iniciais!

João Marchante disse...

Cada é como cada qual e faz como lhe apetece nos seus 'posts', 'O.K.'?...
Até porque estamos entre Cavalheiros e há que respeitar os que ainda não se "revelaram" na sua identidade ou não querem, sequer, ser para aqui chamados, em certas histórias.
Quanto ao resto: manda o bom-senso, e o bom-gosto — que é o mais que tudo!
Recebe lá um abração muito especial, ó LAS, e não desatines mais com o pessoal.

LAS disse...

vai-te coçar...

guilherme disse...

Magnífico ! Aqueceram ! Parece uma daquelas discussões que se davam à porta do liceu entre o LAS e o João M ou o António A sobre o tipo de regime adequado a Portugal.

Miguel X disse...

Parece que abriram finalmente as hostilidades, agora começo a reconhecer esta gente.

João Marchante disse...

Errata: Cada um(no início da 1.ª linha do meu comentário anterior).

LAS disse...

devias era deixar uma errata à tua adolescência...

João Marchante disse...

... Conto com a tua imaginação...

Saúdo a tua vontade de despoletar a boa e tradicional polémica, mas está visto que nem assim temos clientela...

João Marchante disse...

Errata: clientela... (no fim da última linha do comentário anterior).

LAS disse...

este tipos já andam frouxos, já...

guilherme disse...

Marchante, perdoa-me o preciosismo, mas, atendendo às anteriores erratas parece pertinente: "despoletar" tem o significado contrário ao daquele que querias empregar (tirar a espoleta impede a bomba de rebentar e não o contrário). "Detonar" ou "originar" serão os verbos certos. Espera-se, portanto, nova errata.

Quanto a esta coisa do almoço, confesso que não sei se me parece uma grande ideia. A coisa era mais jantar e depois rodopiar e saltar ao som dos Lp's que aqui "postámos". Se não é possível organizar-se tal festaria no refeitório do Filipa, contacte-se então a Nônô para, com a perícia habitual, descobrir outro lado onde fazer a festança.

João Marchante disse...

SS:
Se, por um lado, é bem verdade o que afirmas em relação ao accionamento de armas de disparo (bem sei que é uma das tuas especialidades), por outro lado, no que diz respeito aos mecanismos de explosão ou disparo, propriamente ditos, fala-se em despoletar como sinónimo de deflagrar (vide «Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea», da Academia das Ciências de Lisboa); por exemplo, despoletar uma granada; e, daqui vem o sentido que a expressão adquire em despoletar uma polémica, que é o que nos traz aqui hoje...

guilherme disse...

Caro João,

Os académicos mestres do Dicionário da AC incorrem em dois erros crassos:

a) confundem "espoleta", do latim "spoletta" (derivado de "spola", que significa "lançadeira" e que provém, por sua vez, do lombardo "spôla") com cavilha, assim dizendo, erradamente que despoletar uma granada é fazê-la explodir;

b) acolhem um novo verbo na língua portuguesa - o verbo "despoletar" - quando o mesmo não existe; o verbo correcto é sim, "espoletar", ou seja, pôr a espoleta, com o significado de preparar, ou acto necessário para, a explosão. "Despoletar", com o significado que pretendes e que os académicos defendem, é o simples abastardamento verbal do verbo correcto que é "espoletar".Talvez se se usasse antes "desespoletar" (conseguindo pela adição do "des" ao verbo "espoletar" o sentido contrário) a palavra fosse correcta; porém, nesse caso, continuaria o problema do significado, ou seja, "desespoletar" continua a ser retirar a espoleta, desarmar, impedir rebentamento.

Assim, despoletar (ou, correctamente, desespoletar) uma discussão é abafá-la, retirar-lhe força, neutralizá-la, e não o contrário, como pretendes.

Por bem escritos e elucidativos, aqui te deixo dois textos sobre o assunto: um, o primeiro, do eminente sábio José Barreto, (aqui http://ciberduvidas.sapo.pt/correio/9812.html); e, o segundo, do não menos erudito e sabedor Gil de Azevedo Abreu, nesse repositório da sofia que é o Diário do Minho (aqui http://www.diariodominho.pt/index.php?pag=noticia_detalhes&recordID=13862)

1. Despoletar - porquê tanta ignorância?

Perguntava alguém porque é que tanta gente emprega a palavra despoletar no sentido precisamente oposto ao verdadeiro.
Julgo poder dar umas achegas para a resposta.

(A propósito, porque é que não têm uma secção e um ícone de "achegas"?)

Despoletar uma bomba ou uma granada é retirar-lhe a espoleta, é desactivá-la. Por extensão ou analogia, despoletar algo é neutralizá-lo, frustrá-lo, torná-lo inofensivo, etc. Mas como nem todas as pessoas fazem a tropa, é fácil entender porque é que tanta gente parece confundir espoleta com cavilha. Retirar a cavilha a uma granada é o contrário de retirar a espoleta, é desencadear a explosão.
Note-se que a confusão entre as duas operações pode ser fatal: sem espoleta, nada acontece, mas sem cavilha, PUM! Razão adicional para se esclarecer de vez esta "dúvida" da língua, que não pode ficar por uma solução de compromisso.

Mas há outra explicação para confusão tão persistente, sobretudo entre jornalistas, locutores e apresentadores. É que a actual Senhora Presidenta da Câmara de Sintra sustentou em tempos na televisão e em vários dos seus livrinhos de esclarecimento de dificuldades de português que o uso da palavra despoletar como sinónimo de desencadear, sendo originalmente erróneo, com o tempo tinha acabado por legitimar-se!
Seria, pois, aceitável a "nova" acepção do termo despoletar. Está escrito e impresso!

Fantástico, não é?

Então no final de II Milénio, em plena era da comunicação electrónica mundializada, uma palavra pode passar a significar o contrário mercê do uso que lhe dá a turba ignara, como na Idade Média?
Já agora, achará a Dra. Edite Estrela que é de manter nos dicionários também o sentido original da palavra? Deverão coexistir os dois significados antagónicos? Ou será que o novo sentido deve prevalecer sobre o velho e que os manipuladores de minas e armadilhas devem ser reeducados e reciclados para se uniformizar o uso de termo tão... perigoso?
E pretendemos nós que o português seja a língua de 180 milhões de seres?

Despoletemos tão insidiosa conspiração, melhor dizendo: atentado à bomba, contra o bom senso da língua portuguesa!

José Barreto

2. O verbo Despoletar



Já é um lugar-comum dizer que a língua portuguesa está a ser maltrada, quer na escrita (código escrito), quer na oralidade (código oral).

Há uma expressão latina que diz : “verba volant, scripta manent”, ou seja, as palavras voam, os escritos ficam. O que nós escrevemos, bem ou mal, fica registado para sempre, ao passo que as nossas palavras, ao serem pronunciadas oralmente, morrem nesse instante. Quando estamos a dialogar ou a falar com conhecidos ou amigos, não nos preo-cupamos com arrebiques de sapiência.

O caso, porém, muda de figura se se trata de individua-lidades públicas (civis ou religiosas), escritores, jornalistas, professores, etc, no exercício da sua actividade ou profissão. É inadmissível, por exemplo, que um ministro diga “hadem” em vez de hão-de, que se escreva “concerteza” em vez de com certeza, etc. Não se trata de gralhas. São erros de palmatória. Ora um dos erros é a utilização incorrecta do verbo despoletar.

Façamos um pouco de “história” sobre o mesmo e procuremos saber o que dizem os filólogos, os guardiães da língua, os entendidos da matéria, esses mesmos que deveriam esclarecer cabalmente e dizer qual o caminho e a norma a seguir. Desta forma, vamos “auscultar” os dicionários e os linguistas.

1. O “Dicionário da Língua Portuguesa”, Porto Editora, 8.ª edição, 1999, esclarece o seu significado: “despoletar” significa tirar a espoleta a, tornar impossível o disparo ou explosão de, impedir o desencadeamento de, impossibilitar a acção ou o accionamento de, tornar inactivo, travar, anular; por seu turno, “espoletar” tem o sentido de “pôr espoleta em” (espoleta é o dispositivo que produz a detonação de cargas explosivas e projécteis).
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2. O “Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea” da Academia das Ciências de Lisboa, 2001, diz o seguinte: despoletar (de de+espoleta+suf.-ar). 1. Desarmar o mecanismo de accionamento de uma arma de disparo ou de explosão; tirar a espoleta, impedindo o disparo ou a explosão. 2. Deflagrar ou deflagrar-se um mecanismo de explosão ou disparo. Despoletar uma granada. 3. Fazer surgir ou surgir repentina e violentamente. A demissão do ministro despoletou uma crise. 4. Anular ou travar uma tendência, um movimento em curso. A intervenção do ministro despoletou as intenções dos manifestantes. Quanto ao verbo “espoletar”, simplesmente não aparece.

3. Outros dicionários, como o “Dicionário Prático Ilustrado”, da Lello, 1969, o dicionário de “Morais”, 1988, ou o de Augusto Moreno, 1954, não assinalam “despoletar” mas todos trazem “espoletar” com o significado de “pôr espoleta em”. O dicionário enciclopédico Luso-Brasileiro, Lello Universal, 1992, assinala “despoletar” com o significado de “desarmar a espoleta, o detonador”. Já “A Enciclopédia”, Editorial Verbo, S.A., 2004, regista “espoletar” igual a “Pôr espoleta em”, mas omite “despoletar”.

4. Em 01/02/1998, no Diário de Notícias (DN), o linguista José Pedro Machado, respondendo a um consulente, escreveu: «O senhor Marcelo Baptista, de Aveiro, estranha não encontrar nos dicionários o verbo despoletar, “desencadear”, “iniciar acção”. Tal verbo não existe, embora haja quem o empregue na linguagem corrente. É lapso por espoletar, à letra: “pôr espoleta em”».

5. Em “Português Para Todos”, de Carmo Vaz, 1990, edição Círculo de Leitores, aparece o verbo “despoletar” com o significado de “desactivar uma granada”.

6. Em “Dúvidas do Falar Português” (Consultório da Língua Portuguesa), da Editorial Notícias, Edite Estrela foi a que mais se debruçou sobre o significado dos verbos “despoletar” e “espoletar”. No referido livro, III volume, 1988, páginas 47, 110 e 163, explana pormenorizadamente o assunto. Transcrevemos, apenas, o que vem no IV volume, 1991, pág. 113: “Os termos «espoletar» e «despoletar» transitaram da linguagem bélica para a linguagem comum. «Espoletar» significa «pôr espoleta em», isto é, «armar», e «despoletar» significa o contrário. Ao transitar do vocabulário técnico da artilharia para o vocabulário comum, por metáfora, «espoletar» adquire o sentido de «desencadear, provocar, soltar, etc.». Hoje, porém, verifica-se que, na linguagem corrente, o verbo «espoletar» é substituído pelo seu antónimo «despoletar». É uma observação que faço, sem emitir juízos de valor.

“É verdade que, sendo «despoletar» formado pelo verbo «espoletar» a que se juntou o prefixo de origem latina des-, que indica acção contrária, ele deveria ser usado com o sentido oposto. À semelhança de fazer e desfazer, pegar e despegar, unir e desunir, etc.

“Acontece, todavia, que não é este o sentido que a generalidade dos falantes lhe atribui!”.

7. Pedro Tamen, poeta, numa entrevista ao DNA, de 23 de Fevereiro de 2002, a determinada altura, afirmou: “... Mas efectivamente o humor, mesmo o humor da minha vida corrente, de todos os dias, das conversas com os amigos, tem sempre qualquer coisa de disfarce, de desarmar, ou de despoletar, no sentido rigoroso da palavra, que é tirar espoleta e não pô-la (ao contrário do que se pensa), de despoletar a sentimentalidade”.


Fazendo uma apreciação às opiniões emitidas, diríamos o seguinte.


1. É estranho e incompreensível que o “Dicionário da Academia das Ciências” tivesse excluído o verbo “espoletar”. É certo que o verbo “despoletar” é aplicado a torto e a direito, mas o verbo “espoletar” continua a ser usado, se bem que com menor frequência, como se pode verificar nos seguintes exemplos extraídos da imprensa:

“Quando fazíamos essas coisas não as pensavamos, qualquer coisa que espoletava em nós no momento...” (“Notícias Magazine” - 21/04/2002); “Recorde-se que o caso foi espoletado por uma notícia da TVI...” (DN - 04/11/2001); “O Vaticano efectuou intensos esforços diplomáticos para tentar impedir o espoletar da guerra no Iraque...” (DM - 07//04/2003); “Causas acolhidas com um entusiasmo delirante e a desinibição que o contágio com as multidões tem o segredo de espoletar...” (“Notícias Magazine” – 02/03/2003); “Ou até forçando intencionalmente alguma nota para espoletar eventuais reacções” (“Expresso” – 21/02/04).
Mais que estranho, é inadmissível que, para o referido dicionário, o verbo “despoletar” possa ter, simultaneamente, dois significados opostos, ou seja, tanto pode significar “impedir” como “deflagrar” a explosão.

2. É também estranho José Pedro Machado, em 1998, afirmar que o verbo “despoletar” não existe. Que possa não se encontrar em todos os dicionários é uma coisa; agora, dizer que não existe é negar a evidência.

3. Edite Estrela afirma que “«espoletar» é substituído pelo seu antónimo «despoletar». É uma observação que faço, sem emitir juízos de valor”, pois “não é este o sentido que a generalidade dos falantes lhe atribui”. Ora, Edite Estrela dá a entender que o uso (abuso!) faz regra. É caso para perguntar: uma asneira linguística, uma calinada gramatical ou sintáctica, uma utilização incorrecta de um vocábulo, de forma continuada, dita ou escrita por muitos falantes, faz uso, faz norma? Vamos atender “só” à “dinâmica da língua” e à “perspectiva pragmático-utilitária”, para “reconhecer a generalizada aceitação por parte dos falantes portugueses”? Vamos aceitar, de ânimo leve, o enunciado: “A norma diz que não, mas o uso diz que sim”? De facto, não devemos prestar atenção à origem, à formação das palavras? Por este caminho, temos de aceitar tudo, deixamos de ter regras, normas linguísticas ou gramaticais. Será isto purismo ou pretensiosismo da linguagem? Sendo assim, tantas são as patacoadas que se vão ouvindo e lendo que, à força do uso, vamos ter que admiti-las.

Por exemplo, diz uma norma gramatical que o verbo “haver”, no sentido de “existir”, só se aplica na terceira pessoa do singular. Todavia, são tantos os erros no código escrito (para não falar no oral!) que, por este caminho, mais tarde ou mais cedo, vão fazer regra, a asneira vai fazer norma. Lemos nos jornais: “Embora não hajam (em vez de haja) certezas...”; “Já não interessa que hajam (por haja) dívidas incomensuráveis”; “É legítimo que se perca tanto tempo a pensar nestas questões, mas não haverão (por haverá) os mesmo excessos...”; “Não deveriam (por deveria) haver hipóteses mas apenas certezas”; “Apesar de já terem (por ter) havido outros encontros esta 12.ª edição do evento sobre Reumatologia...”. Mas há mais erros: “Silva Lopes é um economista respeitadíssimo à (em vez de há) décadas”; “É bombeiro à (em vez de há) duas décadas”; “Estas 12 casas que já estavam prontas à (por há) cerca de um ano; “PSD e Durão caiem (em vez de caem) nas intenções de votos”; “E os mitos caiem (por caem) como baralhos”; “De hastes que saiem (em vez de saem) das varandas”; ou, então, escrever a palavra “contrasenso” (em vez de contra-senso) seis vezes ao longo de um artigo..., etc., etc.

4. Pedro Tamen dá uma explicação que reforça o significado de “despoletar” do “Dicionário da Língua Portuguesa” da Porto Editora, 8.ª edição. Segundo ele, este verbo significa “tirar a espoleta”, “desarmar”. Ora, seguindo o raciocínio, “espo-letar” exprime o contrário, i.e., “armar”, “pôr a espoleta”.

5. Sintetizando: à letra, i. e., segundo a etimologia da palavra, “despoletar” significa conter, reter, suster, ao passo que “espoletar” é sinónimo de disparar, arremessar, soltar.

6. Mas, para resolver este imbróglio, qual a solução a adoptar? Seguir a locução latina “Tot capita, tot sententiae”, quantas cabeças, tantas sentenças? Por outras palavras, escolher o uso de “despoletar”, “espoletar” ou até ... “desplotar” (“Possibilidade de adopção de nova Constituição deverá desplotar atentados radicais”) vai ficar à vontade do freguês, ao critério, ao arbítrio de cada falante ou escrevedor? Ou tudo isto não passará de uma questão de “lana caprina”?

[21/07/2004 - 12:48] [Por Gil de Azevedo Abreu]

João Marchante disse...

Meu Caro,

Touché!

Anónimo disse...

esse touché, deve ser sinónimo de cala-te, não?

Anónimo disse...

parece que esta gente não ouviu os Pink Floyd "We don't need no education; We dont need no thought control; No dark sarcasm in the classroom; Teachers leave them kids alone".

mas bem vistas as coisas e lida a lenga lenga o 79 parece ter razão

LAS disse...

Boa! Ganharam o Prémio do Comentário Mais Idiota aqui publicado.
Pela desporporção, pela extenção e pela profundidade do tema.
Depois disto, só com um copy/paste de um acordão desses mais tronchudos, ó Gui...

Unknown disse...

LAS... extenção? desporporção?

Mais lhe valia continuar a ler os comentários com calma.